Salário. Benefícios flexíveis. Seguro. Telemóvel e computador. Despesas de representação. Horário de trabalho. Direito a desligar. Dias de férias. Formação profissional. E flexibilidade. Depois de dois anos a trabalhar “de onde quisemos” – ainda que, graças à pandemia, fundamentalmente de casa -, a rotina empresarial começou a voltar ao “velho normal”.
Em fevereiro último o Governo Português deixou de recomendar o teletrabalho como modelo laboral preferencial para as empresas. Na sequência desse anúncio, muitas empresas convidaram os seus colaboradores a voltarem ao escritório, em modelos mais ou menos flexíveis.
Simultaneamente, e pela primeira vez na história do LinkedIn, os trabalhos remotos tiveram mais candidaturas do que os que registam outro tipo de lógica laboral. De acordo com aquela rede social, 50% das candidaturas enviadas via plataforma foram para trabalhos remotos, ainda que essa categoria represente apenas 20% dos anúncios de trabalho disponíveis. Os números demonstram que as posições remotas representaram 19,4% do total de trabalhos pagos, enquanto atraíram candidaturas de 50,1% e 45,1% do total de visualizações.
Ainda que sejam apenas uma amostra – os dados referem-se a job posts pagos no LinkedIn, em fevereiro de 2022, e no mercado norte-americano -, a evolução destes números manifesta aquilo que, de alguma forma, todos temos sentido nos últimos tempos: as pessoas querem ter a liberdade de escolher de onde trabalham, sem que lhes seja imposta uma localização em particular. As razões são mais que muitas, e vão desde a possibilidade de mais tempo livre, decorrente das deslocações poupadas, até à poupança em transportes ou combustível. E, ainda que o afastamento do escritório possa trazer inúmeros desafios de criação ou manutenção da cultura empresarial, a desmaterialização do local de trabalho é também uma oportunidade de criarmos espaços e relações de trabalho e vida mais equilibradas.
A sublinhar a importância de as empresas considerarem uma mudança profunda na forma como veem o local de trabalho surge a reflexão do próprio LinkedIn: a rede social alerta para o movimento contrário dos colaboradores às intenções das empresas, que parecem estar ansiosas por devolver os trabalhadores ao escritório, ao mesmo tempo que muitos trabalhadores enviam uma mensagem forte no sentido do contrário.
“O regresso aos escritórios pode trazer perigosas entrelinhas”, explica Amy Lavoie, ex-diretora de desenvolvimento estratégico do LinkedIn. “Pode parecer aos colaboradores que, enquanto os seus líderes priorizaram o seu bem-estar e segurança na primeira fase da pandemia, estão agora a focar-se apenas no negócio e a avançar com a sua própria agenda a todo custo, deixando as preocupações com os trabalhadores para trás (…) Os colaboradores procuram que as suas organizações valorizem as suas necessidades como seres humanos completos, e confiam-lhes as decisões sobre como, quando e onde querem trabalhar.”, assinala a responsável.
Esta realidade aponta num sentido claro; as organizações e as suas lideranças precisam de repensar os locais e modelos de trabalho para ir ao encontro das expectativas dos seus colaboradores (e futuros colaboradores), mas para isso precisam de revisitar seriamente os seus processos de trabalho tornando-os mais ágeis e flexíveis ainda que seguros e controlados.
E a sua organização, em que estágio está neste processo?